Internações e risco de morte: doenças gengivais são mais graves do que se imagina

Higiene bucal adequada e consultas regulares com dentistas são o caminho para evitar alterações sistêmicas na saúde do paciente, alerta a odontóloga Márcia Luz

As doenças bucais são apontadas como uma preocupação para a saúde pública de muitos países, já que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), essas doenças afetam cerca de 3,5 bilhões de pessoas no mundo. Dentre elas, as mais prevalentes são as periodontais, que, se não tratadas, podem evoluir para a perda dentária e para outros problemas de saúde mais graves, como diabetes, pneumonia e demência – segundo estudos abordados em reportagem do Jornal O Globo –, com risco de internações e até mesmo óbito. Para a odontóloga especialista em Endodontia Microscópica Márcia Luz, esses desfechos negativos podem ser evitados com uma mudança de perspectiva: a de que o acompanhamento odontológico deve ser preventivo e periódico, como de outras áreas da saúde.

Segundo a profissional, tudo pode começar com uma higiene oral inadequada. “Existe uma película aderida na superfície dos dentes, chamada biofilme, na qual estão bactérias boas e ruins. Quando esse material fica antigo e não é removido de forma satisfatória, há uma desorganização da cavidade oral e as bactérias nocivas se proliferam de forma desordenada, transformando-se em placa bacteriana”, explica. Márcia destaca que se essa placa não for retirada apropriadamente na escovação dos dentes e com o uso regular de fio dental, ela se calcificará e formará o tártaro. “A presença do tártaro, por sua vez, causará a gengivite, que é uma inflamação dos tecidos gengivais”, esclarece.

Os sintomas da gengivite são inchaço, vermelhidão, sangramento espontâneo ou ao toque e, às vezes, uma dor na hora da escovação ou do uso do fio dental. Quando essa condição evolui, ela se transforma em doença periodontal, que é quando o tártaro se instala abaixo do nível da gengiva e agride o osso e os tecidos que sustentam os dentes. “Chega a ser até uma situação crônica, na qual já existe o mau hálito, que muitas vezes o paciente não sente. Há alteração do paladar, porque o indivíduo tem dor e não sente mais o gosto dos alimentos, em razão da contaminação. Existe também a perda óssea na região, podendo o dente ficar mole, e a retração gengival, que pode envolver a necessidade de enxerto e tratamentos de limpeza subgengival”, detalha a odontóloga.

A periodontite já é uma situação grave, uma vez que a infecção bucal pode interferir de forma sistêmica na saúde do paciente. “Porque essa bactéria causadora da infecção já está na corrente sanguínea do paciente e ela pode vir a se alojar em qualquer parte do corpo”, enfatiza Márcia Luz. Nesse sentido, ela cita estudo recente da Head and Face Medicine, no qual se confirmou que as doenças odontogênicas, ou seja, de origem bucal, podem evoluir para situações de ambiente hospitalar, com risco de morte. “Hoje, a presença de um dentista dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é obrigatória. Inclusive, atualmente, temos a especialidade de odontologia hospitalar, porque está consolidado na literatura que qualquer alteração da microbiota bucal tem um comprometimento sistêmico”, pontua.

O melhor caminho é, portanto, a prevenção. “O paciente precisa ir ao dentista não somente para fazer uma limpeza, como é o costume da maioria das pessoas, ele precisa ir para fazer o diagnóstico de doenças. Da mesma forma que as mulheres precisam ir ao ginecologista regularmente para prevenir o câncer de colo de útero, que todos precisam ir ao oftalmologista para verificar se não há uma alteração nos olhos. A boca também precisa ser avaliada como parte da prevenção de doenças”, observa. Márcia Luz destaca que as pessoas precisam se acostumar com a ida ao consultório odontológico de seis em seis meses para cuidar da saúde e arremata: “Odontologia não é somente estética”.

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