Economia circular: importante contribuidora na contenção das mudanças climáticas

Oportunidade para o Brasil: uma análise sobre o eixo de economia circular no Plano de Transformação Ecológica

Durante a primeira semana da COP28, o governo brasileiro apresentou o seu Plano de Transformação Ecológica, com objetivo de impulsionar a economia verde no país. O Plano conta com 6 eixos: finanças sustentáveis, adensamento tecnológico, bioeconomia, transição energética, nova infraestrutura e adaptação, e economia circular. 

Especificamente o eixo de economia circular, apresenta algumas ações já implantadas, como voltadas para catadores de materiais recicláveis e regulamentação de créditos de reciclagem; e outras ações que estão em elaboração/tramitação, como desenvolvimento tecnológico para reutilização de resíduos sólidos urbanos e expansão da cobertura de saneamento. 

Análise: Luísa Santiago, diretora executiva da Fundação Ellen MacArthur na América Latina

Ter um eixo de economia circular no Plano de Transformação Ecológica é um importante avanço nas políticas públicas voltadas ao crescimento econômico de baixo carbono, além de fundamental para que este objetivo seja atingido. Contudo, enquanto especialistas em economia circular, vemos que as ações contempladas no eixo refletem uma visão limitada do potencial deste modelo e, se o governo se ater apenas a elas, pode perder uma oportunidade de impulsionar uma transformação que nos levará a um outro patamar de prosperidade econômica, preservação ambiental e desenvolvimento social.

As ações são majoritariamente voltadas à reciclagem e gestão de resíduos. No entanto, o ganho ambiental e as oportunidades econômicas são maiores quando repensamos e reprojetamos os produtos e modelos de negócio para que eles deixem de gerar resíduos no início da cadeia. Estratégias como a reutilização, reparo e remanufatura reduzem a dependência dos recursos virgens, além de gerarem empregos de melhor qualidade. São, também, mais eficazes na contenção das emissões de GEE ao longo da cadeia. 

O Plano de Transformação Ecológica, com seu eixo de economia circular, é uma grande oportunidade para o Brasil. Mas precisamos garantir que ele seja eficaz e gere o melhor retorno possível. 

Como reverter as emissões no setor de alimentos  

Além da transição energética como um grande foco nessa COP28, os impactos da agropecuária, e da produção de alimentos como um todo também ganham destaque no evento. Agricultura regenerativa e novos sistemas alimentares ganham espaço na COP, com, por exemplo, 134 líderes mundiais assinando a “Declaração sobre Agricultura Sustentável, Sistemas Alimentares Resilientes e Ação Climática”.

Segundo dados presentes em estudo da Fundação Ellen MacArthur, o sistema alimentar atual é responsável por ⅓ das emissões de gases do efeito estufa em todo o mundo e por metade das pressões que a humanidade exerce sobre a biodiversidade. Atualmente, nós não só produzimos alimentos de uma maneira que geram impactos extremamente negativos para o meio ambiente, mas também desperdiçamos quase ⅓ dessa produção – enquanto 735 milhões de pessoas passam fome e 2,3 bilhões se encontram em situação de insegurança alimentar no mundo. 

O que é possível fazer para desencadear uma mudança positiva em todo o sistema? 

Análise: Victoria Almeida, gerente da rede empresarial da Fundação Ellen MacArthur na América Latina

Mundialmente, uma economia circular para alimentos poderia reduzir as emissões de gases de efeito estufa do setor em 49% ou 5,6 bilhões de toneladas de CO2 até 2050. Alguns dos caminhos para isso são a agricultura regenerativa, que contribui com a captura de carbono, e a redução do desperdício ao longo da cadeia. 

Para criarmos um sistema alimentar melhor, que seja positivo para a natureza, os consumidores, os agricultores e os negócios, precisamos redesenhar os nossos alimentos com os princípios da economia circular. Isto é precisamos aplicar o design circular de alimentos. Este é um modelo para reformular produtos alimentícios de maneira que o seu cultivo e produção reconstruam a biodiversidade e ajudem a natureza a prosperar. 

A proposta é que os ingredientes escolhidos para compor esses produtos sejam mais diversos em variedades e espécies; de menor impacto ambiental; ingredientes reciclados (ou upcycled); e produzimos de maneira regenerativa. 

Empresas e varejistas têm um importante papel na construção de um sistema alimentar positivo para a natureza. Através dessas escolhas de ingredientes, fornecimento e embalagens dos produtos alimentares, elas podem influenciar positivamente todo o sistema de cultivo, produção e consumo. 

Neste momento, a Fundação está executando uma jornada de inovação de alimentos com diversas empresas que aceitaram o desafio de redesenhar seus produtos com base no modelo de design circular de alimentos. Ao final do Desafio ‘The Big Food Redesign’ (ou O Grande Redesenho de Alimentos), veremos produtos que são positivos não só para os consumidores mas também para a natureza.

Quer conhecer casos de empresas do Brasil e Colômbia que aplicam algumas das oportunidades do modelo de design circular de alimentos? Assista à série “Design circular de alimentos: repensando produtos para regenerar a natureza”, produzida pela Fundação Ellen MacArthur em 2023.

Artigo: Alimentando o potencial de solução climática das startups circulares

As startups circulares estão entre os exemplos mais interessantes de soluções climáticas em ação. […] Elas são movidas por soluções pela sua própria natureza, com agilidade cultural e capacidade organizacional para desafiar o status quo sem se preocupar em perturbar estruturas legadas ou acionistas.

Com as mudanças climáticas e seus efeitos sentidos em todo o mundo, precisamos cada vez mais de ações realmente eficazes. Neste artigo, três especialistas da Fundação Ellen MacArthur explicam como as soluções de economia circular podem ser também ações pelo clima e dissertam sobre onde podemos encontrar bons exemplos disso: nas startups circulares! Leia o artigo na íntegra

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