Apesar dos avanços em prevenção, o país registra 13 casos para 100 mil brasileiras, taxa três vezes maior que a estabelecida pela Organização Mundial da Saúde. O Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA) ressalta que o aumento da adesão à vacina contra HPV, oferta de testagem molecular do HPV e a ampliação do acesso ao Papanicolau são algumas das medidas importantes para que o Brasil se aproxime das metas da OMS para 2030
Com o objetivo de mudar este cenário, caminhando em direção ao objetivo de adotar estas medidas e ter a primeira geração brasileira livre da doença, foi criado o Movimento Brasil sem Câncer de Colo do Útero por iniciativa da oncologista clínica Angélica Nogueira Rodrigues, primeira presidente e atual diretora de planejamento do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA).
A especialista, em sua participação em episódio especial do EVA CAST, disponível nas plataformas de podcast, comenta que o Movimento Brasil Sem Câncer do Colo do Útero trabalha em total alinhamento com a OMS, mas com um ajuste que leva em conta o perfil epidemiológico e socioeconômico do país. “A OMS defende o rastreamento atualmente com a técnica de HPV DNA, estimando que 70% das mulheres estejam cobertas por este método de rastreamento. No Brasil, a forma de rastreamento disponível no SUS é pelo exame de papanicolau”, ressalta Angélica Nogueira.
Metas da OMS e do Movimento Brasil sem Câncer de Colo do Útero – No plano de metas para 2030, a OMS aponta para a necessidade de que 90% das meninas estejam vacinadas com a vacina contra o HPV até os 15 anos; 70% das mulheres sejam examinadas com um teste de alta qualidade aos 35 e 45 anos e 90% das mulheres recebam tratamento no estágio inicial da doença. Nesta meta 90-70-90, a proposta atual para o Brasil é de uma adaptação para 90-30-90.
“Como o Brasil não tem disponível na saúde pública o teste de HPV DNA, a nossa defesa é a realização de papanicolau anualmente por 30% das mulheres, sendo que, em caso de exame negativo, ele pode ser feito a cada três anos. Sendo assim, em um triênio, 90% das mulheres estariam cobertas com essa técnica de rastreamento”, comenta Angélica, que é também diretora nacional da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), chair do Latin American Cooperative Oncology Group, diretora técnica da Dom Oncologia e professora pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Avanço a caminho: teste molecular para o HPV no SUS – O Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA) defende a incorporação do teste molecular para o HPV no SUS. A boa notícia é que em janeiro de 2024 houve um parecer preliminar favorável da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) à esta incorporação como meio de detecção do papilomavírus humano (HPV) para rastreamento do câncer do colo do útero no SUS. Com base nisso, o Ministério da Saúde abriu consulta pública à sociedade civil, que ficou disponível até quarta, dia 17.
O órgão reconhece que as evidências científicas mostram que o rastreamento com testes moleculares para detecção da doença é mais eficiente para a identificação de lesões precursoras do câncer do colo do útero e que isso, consequentemente, contribui para a redução de novos casos e da mortalidade pela doença. Além disso, a identificação precoce do câncer e das lesões pré-malignas permite o uso de tratamentos menos invasivos, a melhora da qualidade de vida durante o tratamento e o aumento da possibilidade de cura.
10 anos de vacina contra HPV no SUS: queda contínua e retomada em 2023 – Em janeiro de 2024 estão sendo completados dez anos que a vacina contra o vírus HPV para meninas passou a ser disponibilizada gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Porém, os dados trazem um importante alerta. Levantamento feito na base DataSUS mostra que, a cada ano, houve uma permanente diminuição da quantidade de doses aplicadas.
O melhor resultado foi obtido justamente em 2014, quando foram aplicadas quase 8 milhões de doses da vacina contra HPV nas meninas brasileiras. Naquele ano, a imunização foi levada para dentro das escolas públicas. O número caiu para abaixo de 6 milhões de doses no ano seguinte. E, entre 2016 e 2022 o total não superou a marca de 2 milhões de doses. A boa notícia é que em 2023, segundo o Ministério da Saúde, foram aplicadas 5,8 milhões de doses, aproximando-se da marca registrada em 2015.
A imunização contra o HPV é principal forma de prevenção do câncer de colo do útero. A vacina é disponibilizada pelo SUS para crianças e adolescentes de 9 a 14 anos de idade, pessoas imunossuprimidas – indivíduos que vivem com HIV ou AIDS; transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea; pacientes oncológicos; e vítimas de violência sexual de 9 a 45 anos de idade.
Sobre o Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA) – O EVA é uma associação sem fins lucrativos, composta em sua maioria por médicos, que tem como missão o combate ao câncer ginecológico. Seu time, multiprofissional, atua com foco na educação, pesquisa e prevenção, assim como promove apoio e acolhimento às pacientes e aos familiares.
A idealização e a organização do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos foram iniciadas pela oncologista clínica Angélica Nogueira Rodrigues, no Hospital do Câncer II do Instituto Nacional de Câncer (INCA). A primeira reunião ocorreu em 12 de março de 2010 e o nome Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos passou a ser utilizado a partir desta data.
A primeira reunião para nacionalização do grupo ocorreu no Congresso da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), em 2013, na cidade de Brasília. O nome EVA foi resultado de uma reunião neste evento e foi sugerido pela oncologista clínica, coordenadora da área de apoio ao paciente (advocacy) do grupo, Andréa Paiva Gadelha Guimarães. O ginecologista oncológico Glauco Baiocchi Neto é o diretor-presidente do EVA na gestão 2023-2024.
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