O mercado de cannabis nas farmácias brasileiras apresentou um crescimento de 123% nas vendas entre janeiro e novembro de 2023, em comparação com o mesmo intervalo do ano anterior. Segundo dados da IQVIA, as 316,1 mil unidades comercializadas no período movimentaram R$ 127,4 milhões.
Os números promissores, no entanto, ainda seguem acompanhados de gargalos associados à educação médica para fins de acesso, informação transparente e qualificada e regulação.
Em entrevista exclusiva ao Panorama Farmacêutico, a diretora executiva da Associação Brasileira da Indústria de Canabinoides (BRCann), Bruna Rocha, teceu fortes críticas ao que chama de excesso de especulações e opiniões aventureiras, principalmente em relação a novas apresentações, que prejudicam o setor quando se discute uma revisão da RDC 327 em 2024.
“Chega a ser irresponsável a atitude de alguns especialistas e executivos que acreditam no alarde para atrair a atenção do órgão regulador e conseguir uma aprovação a tiracolo por meio do grito e da insistência”, avalia Bruna. “Qualquer propagação de informação sobre novas apresentações de produtos que não se encaixam atualmente no arcabouço regulatório, cujo relatório de análise de impacto nem foi finalizado, é mera especulação. Essa discussão precisa ser muito cautelosa, pois não podemos, de forma alguma, levantar dúvidas e trazer riscos à segurança e à saúde pública”, avalia.
Segundo Bruna, evidentemente que existe uma expectativa de incremento de portfólio, uma maior clareza em algumas disposições da regulação e, também, a extensão do prazo da autorização sanitária, até por força do desenvolvimento do setor nos últimos três anos.
Composta por 20 empresas nacionais especializadas no mercado de cannabis, os associados da BRCann representam cerca de 30% dos produtos em circulação no país.
No âmbito da RDC 327, o Brasil conta com 37 autorizações sanitárias concedidas pela Anvisa, mas nem todas estão disponíveis nas farmácias. Atualmente existem 25 medicamentos que podem ser comercializados nas drogarias. “A estimativa é que nos próximos três anos esses números dobrem e todas as empresas que operam nesse setor no médio e longo prazo se posicionem como indústria farmacêutica”, complementa.
Na avaliação da diretora da BRCann, a prescrição médica representa uma das grandes barreiras que impedem a ampliação do acesso à cannabis medicinal. “E o ponto principal é a carência de informação do prescritor sobre como deve ser feita a prescrição de cannabis e os limites de conduta para que sua orientação não seja tipificada como publicidade e propaganda”, avalia Bruna
Nesse ponto, a executiva ressalta a necessidade de um trabalho conjunto entre o Ministério da Saúde, Conitec, Anvisa e os conselho federais e regionais de medicina, odontologia e farmácia a fim de determinar as regras e limites para atuação dos profissionais de saúde.
O sucesso das vendas de produtos à base de cannabis medicinal nas farmácias se explica em parte pela alta competitividade do setor. O fenômeno gerou uma redução de 466% no tíquete médio desses produtos neste ano, em comparação com os lançamentos que chegaram ao varejo em 2019.
“Esse cenário de redução de preço será refletido para 2024-2025 de forma mais considerável, uma vez que teremos mais novidades nas prateleiras das farmácias. E com o eventual incremento do portfólio na RDC 327 é natural que os pacientes que importam o medicamento passem a adquiri-lo diretamente no mercado brasileiro”, finaliza Bruna.
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